Introdução
Fundamentos da Óptica
Geométrica
Reflexão no espelho plano
Reflexão no espelho
esférico
A Configuração
Óptica do Telescópio Newtoniano
A Configuração
Mecânica Dobson
Introdução
O conceito desenvolvido por John Dobson une a
configuração telescópica newtoniana com o sistema
de coordenadas altazimutais.
O telescópio newtoniano desenvolvido por Issac
Newton em 1668 representa uma grande simplificação
nos elementos ópticos com relação a outras
configurações. A objetiva é somente um espelho
esférico côncavo ao contrário dos
telescópios refratores compostos por uma ou mais lentes para
eliminar as aberrações cromáticas. A
inclusão do espelho secundário permite desviar o feixe a
noventa graus e observar os objetos celestes numa posição
radial ao eixo óptico do espelho primário.
O sistema de coordenas horizontal ou altazimutal permite uma montagem
mecânica simples - apesar de não podermos compenssar o
efeito da rotação terrestre com simplicidade - de baixo
custo e, bem leve quando nós comparamos com uma similar a
montagem equatorial ou montagem tradicional alemã.
Para aqueles que desejam construir um telescópio dobsoniano,
nós vamos dividir o processo de construção do
telescópio em algumas etapas a saber:
-
A Configuração Óptica
-
A Configuração Mecânica
Das duas nós faremos uma série de
considerações que nos levarão ao dimensionamento
da montagem mecânica do telescópio. O nosso objetivo
será estabeler os parâmetros necessários - os
compromissos - entre a óptica e a mecânica do conjunto
para nós obtermos a melhor eficiência do
telescópio. Esse compromisso entre óptica e
mecânica será dirigido para um telescópio
dobsoniano de observação visual. Não vamos nos
preocupar aqui com adaptações e/ou
configurações para máquinas fotográficas ou
qualquer outro dispositivo adicional.
Fundamentos da
Óptica Geométrica
Um curso formal sobre óptica geométrica que atenda aas
necessidades reais para trabalharmos a ótica do
telescópio newtoniano será muito longo. No intuito de
sermos breves, nós introduziremos os conceitos mínimos
necessários para que o traçado de raios possa ser
compreendido. Para isso nós precisamos saber:
o que é a reflexão de um raio por um espelho
plano e,
a partir de dois raios com comportamentos conhecidos no
espelho esférico côncavo
elaborar e construir a teia de raios e feixes que nós
permitiremos avaliar a configuração óptica
newtoniana.
Reflexão
no Plano
Nós todos estamos acostumados com a nossa imagem através
de um espelho. Cada ponto do nosso rosto "emana raios" que atingem a
superfície refletora do espelho e retorno aos nossos olhos. A
natureza é muito sábia e no processo de reflexão e
mesmo no de refração da luz, ela, a LUZ, percorre o menor
caminho. Essa propriedade é conhecida como o Princípio de
Fermat. Esse princípio é muito fácil de ser
percebido na reflexão. Observe a figura abaixo:
Fig.01- A Reflexão em superfícies planas
O raio de luz que passa por A atinge o ponto
de incidência V no espelho plano e é desviado por um
ângulo exatamente igual, mas contrário em
relação à normal (perpendicular a
superfície do espelho em V). Os ângulos b e b'são
iguais. Observe que os pontos B e B' marcados sobre o raio refletido e
o segmento auxiliar respectivamente são eqüidistantes em
relação ao espelho. O comprimento do segmento AB'
é o segmento AV+ VB' e este é exatamente igual ao
comprimento do segmento AV + VB. O percurso da luz de A até B
foi feito pelo menor caminho. Se nós tomarmos qualquer outro
ponto do espelho que não seja o V, o caminho de A até B
será sempre maior. Da Geometria plana, dado dois pontos
não coincidentes, nós sempre teremos um segmento de reta
ou uma única reta passando por esses dois pontos.
Reflexão
no Espelho Esférico Côncavo
Os raios importantes para traçar o feixe de luz que
atinge um espelho esférico côncavo são dois:
Raio paralelo ao eixo óptico
Raio incidente no vértice do espelho
Fig.02- Raios principais do espelho esférico côncavo
Note que o vértice V é o ponto
central de simetria radial da superfície esférica do
espelho e por ele passa o eixo óptico do espelho (linha branca)
da direção axial (ao longo do eixo). No caso da
superfície esférica C é o centro de curvatura e no
caso com raio R. Para esse tipo de superfície refletora, todo
raio que chega paralelo ao eixo ótico é desviado em
direção ao ponto F (foco). Todos os raios paralelos
convergem para o ponto F distante R/2 do vértice V do espelho.
Outro raio importante é o que incide exatamente no
vértice do espelho. Nesse ponto o raio incidente tem o seu raio
refletido desviado do mesmo valor da incidência em
relação ao eixo óptico. Veja que nesse caso o
vértice V do espelho côncavo funciona como um espelho
plano nesse local.
O mesmo ocorre para os raios que chegam paralelo ao eixo óptico.
Eles ao incidirem na superfície do espelho, a reflexão
deverá naquele ponto ser aplicada e o raio será desviado
para o ponto F (foco).
Tudo isso que nós estamos afirmando para o espelho côncavo
é uma aproximação e é válido para
ângulos pequenos - da ordem de cinco graus.
Com esses dois elementos básicos,
nós passaremos a Configuração Óptica do
Telescópio Newtoniano. Nela nós veremos o problema da
colocação do espelho secundário.
A
Configuração Óptica do Telescópio Newtoniano
O telescópio refletor newtoniano é composto de
um espelho esférico côncavo como indicado na figura
abaixo. Tem um eixo de simetria que ao mesmo tempo é o seu eixo
óptico.
Fig.03- O espelho côncavo esférico.
Ao passarmos um feixe de luz paralelo ao
eixo óptico, sua luz será toda desviada para um ponto
comum sobre o eixo óptico chamado de foco. Esse feixe
corresponde a luz vinda de um objeto muito longe, por exemplo, uma
árvore muito distante. A LUZ de uma estrela do firmamento
corresponde bem a essa situação.
Fig.04- Feixe de luz paralelo ao eixo óptico
No caso de objetos extensos, ou de objetos
muito longe e fora do eixo óptico do espelho primário, a
luz desses objetos será tratada como um feixe paralelo, mas
inclinado em relação ao eixo de simetria axial. A
inclinação desse feixe corresponderá ao campo de
visão do telescópio. Na figura abaixo, nós temos a
situação de um objeto no infinito e acima do eixo
óptico. Por causa da reflexão, a imagem se formará
num ponto afastado na direção radial em
relação ao foco do espelho primário e se
formará do lado contrário do feixe incidente. O espelho
irá inverter a imagem.
Fig.05- Feixe de luz paralelo, mas inclinado e acima do eixo
óptico
De igual modo, nós vamos traçar os raios de um
feixe paralelo inclinado, mas oposto ao da figura anterior. A
situação toda se inverte a descrição da
figura 05.
Fig.06- Feixe de luz paralelo, mas inclinado abaixo do eixo
óptico.
O conjunto de todos esses três feixes
paralelos nós mostra como a luz é modificada pelo espelho
primário para formar a imagem sobre o plano focal. Se nós
montássemos a ocular na frente, ao observar as nossas
cabeças irão naturalmente obstruir a luz e nós
não veremos nada.
Fig.07- O conjunto de todos os feixes paralelos e o plano focal
A solução para esse problema
consiste em nós colocarmos um espelho plano inclinado de 45
graus para desviar o feixe em noventa graus em relação ao
eixo óptico. Desse modo o plano focal ficará fora da
entrada de luz e nós poderemos observá-lo a partir da
direção radial. O espelho plano (secundário)
deverá ser colocado entre o foco e o vértice do espelho
esférico (primário). Na figura abaixo, nós temos a
colocação desse novo elemento no sistema óptico.
Fig.08- O espelho plano secundário ou espelho diagonal
Como nós podemos perceber a
introdução de um elemento central a frente o espelho
primário causara certa obstrução da luz total
incidente. Para o caso o feixe paralelo ao eixo óptico o
resultado será:
Fig.09- Obstrução do feixe de luz paralelo a eixo
ótico.
Para o feixe paralelo inclinado acima do
eixo óptico, o resultado será:
Fig.10- Obstrução do feixe paralelo inclinado acima o
eixo óptico
E para o feixe paralelo, mas inclinado
abaixo do eixo óptico, nós teremos:
Fig.11- Obstrução do feixe paralelo inclinado abaixo do
eixo óptico.
Juntando todos os três feixes paralelos, nós
teremos a configuração clássica do
telescópio refletor newtoniano. Nós temos realmente uma
perda de luz e ela será cada vez maior à medida que o
espelho secundário se aproximar do espelho primário.
Fig.12- A Configuração óptica de um
telescópio newtoniano.
Eliminando-se o feixe de raios e ficando
somente com os raios externos, nós teremos os elementos
geométricos necessário para dimensionar e posicionar o
espelho secundário como indicado na figura abaixo.
Fig.13- Raios necessários para dimensionar o espelho
primário.
Observe que na figura abaixo que o recuo (r)
do espelho secundário deverá ser maior que a metade do
diâmetro do espelho primário. O ângulo 2α
será ao campo de visão desejado do telescópio e
corresponderá ao deslocamento (2c) sobre o plano focal do feixe
paralelo inclinado. A interceptação dos raios externos
com o plano do espelho secundário irá determinar a sua
dimensão meridional (a).
Fig.14- Dimensão meridional do espelho secundário
A outra dimensão do espelho
secundário corresponde à direção sagital -
plano perpendicular as figuras e que passa pelo eixo óptico. Na
figura abaixo, nós temos a representação da
direção sagital extraída a partir dos feixes
refletidos pelo espelho primário sem o secundário. O
segmento transversal perpendicular ao eixo óptico que passa pelo
ponto de intersecção do espelho secundário com o
eixo óptico do espelho primário corresponderá
à dimensão sagital do espelho secundário.No
mínimo o nosso espelho secundário será um
retângulo com dimensões a e b. A sua forma real é
próxima a uma elipse com eixos a e b.
A
Configuração Mecânica de John Dobson
A próxima etapa será nos alojarmos o espelho
primário numa caixa a CAIXA DO PRIMÄRIO e de igual modo o
espelho secundário numa caixa a CAIXA DO SECUNDÁRIO.
Observe que as dimensões da caixa deverão ser tais que
não haja obstrução dos raios mais externos e que
não haja obstrução nos raios que chegam ao plano
focal. Também deveremos controlar a separação
entre as caixas em função da posição do
espelho primário. Por uma questão de estabilidade a caixa
do secundário deverá ser feita de uma madeira menos
espessa que a da caixa do primário e garantir um
equilíbrio estático mais próximo do
primário. Veja a figura abaixo:
Fig.15- Colocando as caixas dos espelhos
A caixa do espelho primário
deverá permitir a fixação e o ajuste da
orientação do plano perpendicular ao eixo óptico
que passa pelo vértice do espelho. O ajuste desse espelho
corresponderá ao caminho óptico da luz refletida no
vértice e que deverá atingir o espelho secundário
e desviá-la até a ocular.
Fig. 16- A Caixa do Espelho Primário e o seu suporte de
fixação
O suporte do espelho primário
consiste num sistema mecânico de apoio sobre três pontos. O
parafuso de ajuste permite controlar a orientação do
plano radial que passa pelo vértice do espelho primário
(V). As molas facilitam o ajuste mantendo a base de
fixação do espelho afastada do fundo da caixa. Os
contra-parafusos servem para travar a orientação do
espelho primário.
A caixa do espelho secundário
deverá propiciar a fixação do espelho diagonal e
permitir uma mobilidade no posicionamento desse espelho para o ajuste
do caminho a ser percorrido pela luz ao longo do eixo óptico
central entre a ocular, o espelho secundário e o vértice
do espelho primário.
Fig.17- A Caixa do Espelho secundário e o seu suporte de
fixação
Os parafusos de ajuste permitem centralizar
o espelho secundário e orientar a inclinação do
mesmo.
Durante o processo de alinhamento, um feixe
central vindo a partir do sistema de focalização
deverá ser refletido e desviado pelo espelho secundário
em direção ao vértice do espelho primário.
Em seguida, a orientação do espelho primário
deverá ser feita para que o feixe retorne pelo mesmo caminho no
sentido do sistema de focalização.
Fig.18 - Sistema de Focalização
O sistema de focalização
adotado por nós emprega uma flange de caixa d'água de
PVC Marrom de 32 mm. Foram necessárias duas delas para
compor o sistema de focalização - o anel de trava foi
retirado do que seria a base da luva. O diâmetro de 32 mm
corresponde as oculares com bitola 1,25 polegadas de encaixe. O anel de
trava é necessário, pois há uma folga muito grande
entre a luva e a base da luva por causa do tipo de rosca empregada na
flange (rosca dardlet).
Fig.19 - Separação entre as Caixas (Primário e
Secundário)
Para manter a separação entre
as caixas, nós empregamos tubos de PVC Marrom de 32 mm de
diâmetro. Para facilitar a montagem, nós colocamos na
caixa do secundário calços de madeira como limitadores. O
comprimento dos tubos deverá ser ajustado para que o foco caia
no local desejado no sistema de focalização. Na montagem
lembre-se de marcar a posição do cano e a qual canto da
caixa ele deva ser sempre fixado. Isso é necessário, pois
em caso de transporte é necessário montá-los nas
respectivas posições para evitar algum deslocamento na
montagem e ter que alinhar o conjunto óptico novamente.
Com a montagem do sistema óptico
newtoniano acima e incluindo o sistema de focalização e
algum sistema de mira de sua escola, nós podemos proceder
à determinação da posição do centro
de massa ao longo do conjunto. Para isso, nós utilizamos uma
cunha e procuramos a posição em que o sistema fica em
equílibrio estático.
Fig. 20 - Determinando a posição do centro de massa do
sistema óptico.
Conhecendo a posição do centro
de massa, nós colocaremos a articulação do suporte
de altura conforme o esquema abaixo.
Fig. 21 - Articulação do ajuste de altura
A articulação do ajuste de
altura foi construída a partir de um tampão de esgoto de
oito polegadas. A vantagem desse diâmetro é a excelente
área de contato cujo atrito manterá o telescópio
na posição desejada sem qualquer deslocamento. Os
deslocamentos não ocorrerão desde que o sistema do
conjunto óptico tenha sido balanceado e montado em
relação ao centro de massa.
Fig.22 - O sistema óptico newtoniano com o suporte de
articulação de altura
O último conjunto da montagem
dobsoniana é a montagem da base de articulação do
azimute. Nós precisaremos de uma caixa de
articulação do azimute onde a articulação,
do suporte de altura, possa ser encaixada.
Aprimorando
o seu Telescópio Dobsoniano
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