Agradecimentos
* Ao Henrique Jesus Quintino de Oliveira, pela orientação
e trabalhos de edição;
* A Jorge Hönel e Altivo Alexandre Gôvea Jr., pela ajuda na
revisão;
* Aos demais membros do C.D.A., pelas dicas;
* A Vanilde de Fátima Alves, pela colaboração e
contato com as escolas;
* Aos Professores, Diretores e Alunos das Escolas de Magistério
que colaborarm com muito boa vontade.
1. Resumo
Nesse trabalho foram feitas
comparações e análises das
informações de Astronomia, contidas em livros utilizados
no primeiro grau da rede de ensino de São Carlos, tais como: a
determinação de Pontos Cardeais, o mecanismo de
ocorrência das Estações do Ano e as Fases da Lua.
Para a referida análise foi usada uma bibliografia mais
especializada, que trata desses assuntos com maior rigor.
Constatados erros e incoerências,
surgiu o interesse de verificação dos mesmos entre alunos
do Magistério. Para isso, foram tomados depoimentos de alunos do
quarto magistério sobre os assuntos citados. A análise
dos depoimentos mostrou incoerências e erros ainda maiores,
revelando falta de conhecimentos e de informações sobre
tais assuntos, os quais fazem parte do ensino de primeira a quarta
séries, porém não do currículo dos alunos
do Magistério dessa cidade. Os temas que tiveram respostas muito
distintas foram tomados por escrito e seus resultados mostrados em
forma de tabela.
Comparando-se os dados verificou-se bastante
semelhança entre o que existe nos livros e o conhecimento dos
alunos sobre o assunto. Foi tentada uma alternativa com a
intenção de solucionar o problema:
- Cursos com aproximadamente vinte horas
para duas turmas de magistério, uma de cada escola, abordando
exclusivamente os tópicos desse trabalho.
Para verificar o resultado do curso os
alunos foram submetidos a uma avaliação e novo problema
foi detectado: A grande maioria deles não possuía os
conhecimentos básicos para o entendimento desses temas, como por
exemplo: noções básicas de geometria.
Nota-se que estamos de fronte a uma
série de problemas encadeados uns aos outros e todos resultam em
prejuízos para o aluno, que acaba sendo muito mal ensinado e
entra no círculo vicioso: "quem aprende mal, ensina mal e assim
por diante".
2. Introdução
A Astronomia tem sido registrada desde a
mais remota antigüidade como o objeto de maior curiosidade humana.
Essa curiosidade influência a humanidade em todos aspectos, desde
o misticismo religioso até os mais apurados feitos
tecnológicos existentes atualmente. Um fruto dessa curiosidade
é o ser humano poder se desenvolver e crescer, pois por muito
tempo os astros foram inatingíveis e para entendê-los o
homem só dispunha da sua capacidade de observar e pensar.
O desenvolvimento desse raciocínio o
levou a querer entender a obra de Deus, como pode ser encontrado em
citações de Kepler e Newton, e para isso desenvolveu a
Matemática e a Física, duas ciências que atualmente
são aplicadas a todas as áreas do conhecimento humano de
uma maneira ou de outra. A mesma curiosidade ainda pode ser notada nos
dias de hoje, mesmo com a perda do contato do homem com a Natureza,
visto o espanto das pessoas que visitam o Centro de
Divulgação da Astronomia de São Carlos (CDA) e
tomam contato com algum conhecimento da Astronomia, acabam ficando
maravilhados com aquilo que vêem ou ouvem e fazem uma infinidade
de perguntas sobre os objetos do céu, o que são, como
funcionam, ou sobre "coisas" que ouviram falar.
Por esse e outros motivos, o CDA promove
cursos para diversos setores da sociedade: desde leigos, alunos de
primeiro e segundo graus, até cursos de complemento de carreira
para professores da rede de ensino.
Estudando o material utilizado por esses
professores, constatou-se diversas contradições em livros
utilizados de primeira a quarta série do primeiro grau, nos
assuntos relativos a Astronomia.
Tendo, participado de diversos cursos, de
vários trabalhos para a Feira de Ciências, Letras e Artes
de São Carlos (FECLAR), Mostras de Astronomia no CDA e já
estando bastante familiarizado com esse ambiente, surgiu o interesse em
se aprofundar e analisar tais constatações, visando uma
proposta para melhoras.
Como não havia nada formalizado nas
constatações, realizou-se então um levantamento
com o auxílio dos professores da rede de ensino local, que se
comprometeram a emprestar os livros por eles utilizados.
Nesses livros foram encontrados basicamente
os temas: Pontos Cardeais, Estações do Ano e Fases da
Lua, considerados fáceis e passíveis de análise. A
primeira análise contou com a participação de
quase todos os membros do CDA., que propuseram as
direções a serem seguidas e indicaram uma bibliografia de
estudo a fim de aprofundar os temas citados acima.
Assim em [BOCZKO] foi encontrado um
método bastante preciso para a determinação dos
Pontos Cardeais; em [BAKULIN], [CABRAL] e [BOCZKO] são
explicados com rigor o mecanismo de ocorrência das
Estações do Ano e ainda em [BOCZKO] e [CABRAL] é
citado o mecanismo de ocorrência das fases da Lua, sendo que os
dois últimos temas são tratados também nas
apostilas elaboradas no Centro de Divulgação da
Astronomia de São Carlos, [APOSTILA].
Outros livros foram usados como suporte para
entender a "linguagem" técnica de Astronomia. Encontramos em
[CANIATO] recursos que a rede de ensino poderia usar no ensino de
Astronomia, já que existe um material pronto e específico
para essa finalidade. Esta obra aborda alguns dos temas citados e ainda
apresenta sugestões para sua apresentação. Uma
obra muito útil para quem está ensinando ou aprendendo
Astronomia é o Dicionário Enciclopédico de
Astronomia e Astronáutica [MOURÃO], que pode esclarecer
muitas dúvidas, como foi o caso nesse trabalho.
Depois de seis meses de estudos e
revisão dos trabalhos apresentados nas Mostras de Astronomia
sobre os temas, foi feita uma interpretação e nova
análise do material didático cedido pelos professores.
Nessa análise foram utilizados métodos simples de estudo,
como a comparação entre livros de mesma série
escolar e consulta a livros mais especializados sobre o assunto. Nessa
análise foram encontrados e catalogados erros de conceito, erros
de desenhos e erros de impressão que invalidam, ou contradizem a
parte escrita.
2.1 Objetivos
-
Analisar os livros utilizados no
primeiro grau da rede de ensino de São Carlos, nos seguintes
temas: Pontos Cardeais, Estações do Ano e Fases da Lua,
abordando apenas os enfoques de Astronomia, ou seja, determinar os
pontos cardeais usando elementos da esfera celeste e os mecanismos
usados para explicar a ocorrência das estações do
ano e das fases da Lua.
-
Análise de depoimentos de
alunos do quarto magistério sobre os mesmos assuntos e enfoques,
sendo que os depoimentos serão tomados verbalmente em classe e
caso as respostas apresentem muitas discordâncias entre si
serão tomados por escrito para posterior análise.
-
Propor maneiras alternativas de
apresentação dos temas, onde será levada em conta
uma demonstração correta, embora nem sempre esta seja
muito didática, pois a proposta é análise do
conceito.
-
Concluir sobre a eficiência e a
veracidade das explicações encontradas nos livros, sobre
os conhecimentos que os alunos de Magistério estão
levando para ensinar a seus futuros alunos e a necessidade de terem em
seus currículos escolares os assuntos que ensinarão.
3. Primeiro Procedimento
(Uma Análise
dos Livros Didáticos.)
3.1 Pontos Cardeais
Pontos Cardeais
ou Orientação
são os títulos mais comuns encontrados nos livros
consultados onde existe a tentativa de ensinar onde ficam os mesmos:
Leste, Oeste, Norte e Sul. Para isso são indicados, quase
sempre, dois procedimentos.
O primeiro e mais comum, é aquele que
toma o Sol como referência, o qual afirma: se apontarmos o
braço direito para o lado que o Sol nasce, o braço
esquerdo para o lado que o Sol se põe, teremos às nossas
costas o Sul e à nossa frente o Norte. Alguns exemplos desse
procedimento foram fotocopiados dos livros utilizados na rede de ensino
e são apresentados nas figuras 1 e 2. Elas são do mesmo
autor, mas de séries diferentes.
Note que na figura 1 a perspectiva do
desenho não está correta, o Sol parece deslocar-se
próximo ao pólo norte, ou seja, está muito na
frente do observador. O Sol não está se deslocando do seu
lado direito para seu lado esquerdo.
Basta fazer o seguinte:
1°- Estenda o braço direito para o lugar
onde o Sol nasce, que é o Leste
2°- Na direção do Braço
esquerdo fica o Oeste.
3°- Na frente temos o Norte.
4°- Nas costas fica o Sul.
Em Resumo:
Direito temos Leste.
Esquerdo temos Oeste.
Frente temos Norte.
Costas temos Sul.
-21-
|
Figura 1: - Procedimento normalmente adotado na rede de ensino com
erros de perspectiva[1].
[1]Página
Extraída de:
Dantas, Maria do Carmo e Barros, Maria Ignez S.
Villaça de Souza; Estudos
Sociais, Ciências
e Saúde, 2a. Série, pg. 21, São Paulo,
Editora do Brasil, 1983. |
Porém, mesmo que o desenho da figura
1 fosse adequado, o próprio procedimento está
conceitualmente errado, pois o Sol não nasce e nem se
põe, sempre no mesmo ponto durante o ano, sendo assim não
podemos dizer que onde o Sol nasce é o ponto cardeal leste, nem
que onde o Sol se põe é o ponto cardeal oeste. Isso pode
ser verificado com facilidade da seguinte maneira: se um observador na
cidade de São Paulo, no mês de junho, adotar esse
procedimento, ele estará cometendo um erro de aproximadamente
vinte e três graus com relação aos pontos cardeais
verdadeiros, ou seja, se a pessoa apontar para o nascente estará
apontando para um ponto intermediário entre o nordeste e o leste
e não para o ponto cardeal leste, se estiver apontando para o
poente estará apontando para um ponto entre o noroeste e o oeste
e não para o ponto cardeal oeste. Se ainda o mesmo observador
procurar pelo Sol para se orientar, no mês de dezembro,
verá que ele se encontra cerca de 45 graus ao sul de onde tinha
observado no mês de junho e ainda assim não estará
nascendo no ponto cardeal leste e sim numa posição
intermediária entre o leste e o sudeste. Vale ressaltar que
além do procedimento ter essas falhas, existem casos onde
é escrito o procedimento e nos desenhos ocorre a troca dos
pontos cardeais leste por oeste, invalidando tudo que foi escrito
abaixo, como mostra a figura 2, na qual a perspectiva é melhor,
porém ocorre um erro de impressão que deixam o aluno e o
professor sem saberem o que considerar.
Para se orientar, faz-se da seguinte
maneira:
1°.) Estenda o braço direito para o lugar
onde o Sol nasece. É o Leste
2°.) O braço esquerdo aponta para o Oeste.
3°.) Na frente temos o Norte.
4°.) Atrás temos o Sul.
|
Figura 2: - Procedimento contraditório com erros de
impressão conforme grifos em vermelho e em relação
ao horizonte do nascente[2]
[2] Fragmento
extraído de:
Dantas, Maria do Carmo e Barros, Maria Ignez S.
Villaça de Souza; Estudos
Sociais, Ciências
e Saúde, 3a. Série, (edição
antiga), São Paulo, Editora do Brasil. |
COMO SE ORIENTAR
NA SUPERFÍCIE TERRESTRE
Para nos movimentarmos no Estado de São Paulo, no Brasil ou em
qualquer parte da Terra, precisamos saber nos orientar.
Orientar é determinar a direção
de cada um dos pontos cardeais do lugar onde estamos.
Os quatro pontos cardeais são: Norte ou
N, Sul ou S, Leste ou L
e Oeste ou O.
Durante o dia, podemos encontrar os pontos cardeais
tomando como referência o Sol.
O lugar onde o Sol nasce chama-se nascente ou Leste.
Onde ele se põe é poente ou Oeste.
Podemos orientarnos pelo sol assim: estendemos o
braço direito para o lugar onde o Sol nasce e achamos o Leste.
O braço esquerdo estará indicando o poente ou Oeste.
A nossa frente fica o Norte e às nossas costas, o Sul.
...
|
Figura 3:- Ilustração com uma perrspectiva estranha. O
procedimento continua errado e a figura não ajuda muito ao
professor e ao aluno.[3]
[3] Fragmento
extraído de:
Lucci, E. A.; e outros; Descobrindo o Mundo de
Estudos Sociais e Ciências : 4a. série do
1°. Grau, São Paulo,
Editôra Saraiva.
Observação: Livro fornecido pela Secretaria de
Educação. |
Figura 4:- Mais um exemplo de uma figura
construída corretamente. No entanto a descrição do
procedimento para localizar o pontos cardeais continua errada no livro
texto. Nós observamos aqui que a figura acima somente seria
aplicavél nos dias de Equinócio de Outono e de
Equinócio de Primavera, ou seja: nos dias em que inicia as
estações do Outono e da Primavera apenas.[4]
[4] Figura extraída
de:
Perugine, Erdna e Vallone, Manuela Diogo; Mundo
Mágico: Estudos Sociais, Ciências,-
Programa de Saúde, - Livro 3, pg. 24, São Paulo, Editora
Ática SA., 1990. |
Outro procedimento normalmente utilizado
é aquele que toma o Cruzeiro do Sul como referência, onde
se diz que o Cruzeiro do Sul sempre aponta para o Sul (figuras 5, 6 e
7). Porém não é revelado onde está o Sul,
ou a que distância do Cruzeiro do Sul se encontra o ponto cardeal
Sul, pois no caso do observador ver a constelação numa
das situações indicadas pelas figuras 6 e 7 o erro na
determinação dos pontos cardeais poderá ser maior
que aquele apresentado quando se toma o Sol como referência. E
errando o ponto cardeal de referência estamos errando os demais
pontos cardeais.
Durante a noite podemos nos orientar pelo Cruzeiro do Sul.
O Cruzeiro
do Sul é um conjunto de cinco estrelas em forma de cruz,
cuja ponta inferior aponta para o Sul.
|
Figura 5: - Constelação
totalmente fora de escala, suas estrelas não apresentam essa
magnitude quando comparadas às outras estrelas da figura e
não fica próxima do horizonte para a latitude de
São Carlos - SP, quando a constelação é
visível a noite.[5]
[5] Fragmento
extraído de:
Dantas, Maria do Carmo e Barros, Maria Ignez S.
Villaça de Souza; Estudos Sociais, Ciências e
Saúde, 2a.
Série, pg. 22,
São Paulo, Editora do Brasil, 1983. |
No caso das figuras 5, 6 e 7 são
dados à constelação um tamanho e magnitude das
estrelas que ela não tem. Na verdade, a
constelação é pequena e próximo a ela
existem estrelas que se destacam muito mais e não fazem parte da
constelação, além disso a
constelação não fica próxima do horizonte
quando a "cruz" está de pé, a não ser que
estejamos próximos ou ligeiramente ao norte da linha do Equador.
Em particular, na figura 6, nem mesmo o
desenho da constelação está correto, foram
colocadas cinco estrelas quaisquer e sem significado simulando
perfeitamente uma cruz. E estrela Epsilon Crucis não se localiza
no alinhamento do cruzamento dos dois madeiros da cruz. E o
prolongamento de indicação da localização
do Pólo Celeste Sul está errado.
COMO SE ORIENTAR
NA SUPERFÏCIE TERRESTRE
Para nos movimentarmos no
Estado de São Paulo....
A noite, a
orientação em nosso Estado e em nosso país pode
ser feita pela Constelação do Cruzeiro do Sul.
Essa constelação é
formada por cinco estrelas e se apresenta em forma de uma cruz.
Estendendo imaginariamente o braço
maior da cruz achamos o Sul, a nossa frente está o Norte,
a direita o Leste, e à esquerda, o Oeste.
|
Figura 6:- No procedimento indicado no
livro texto e na figura há uma confusão entre o Ponto
Cardeal Sul (Geográfico) com o Ponto Celeste Sul
(Astronômico) e o Cruzeiro do Sul como sendo o local de um ponto
sul. Aqui há uma mistura do procedimento da
orientação pelo Sol. A figura nos força a dar as
costas a estrela inferior do cruzeiro (Alfa Crucis ou Estrela de
Magalhães) apesar da citação "Estendendo o
braço maior da cruz...", ou seja o Pólo Celeste Sul
foi posicionado erroneamente e nela não há
referência onde o Pólo Celeste Sul está.[6]
[6] Fragmento
extraído de:
Lucci, E. A.; e outros; Descobrindo o Mundo de
Estudos Sociais e Ciências : 4a. série do
1°. Grau, São Paulo,
Editôra Saraiva.
Observação: Livro fornecido pela Secretaria de
Educação. |
Um outro exemplo de erro: na figura 7, a
forma da constelação do Cruzeiro do Sul está
correta, mas o esquema induz que a localização do ponto
cardeal Sul corresponde sempre a dar as costas ao Cruzeiro do Sul. Os
autores esqueceram que devido a rotação terrestre,
há um movimento aparente da esfera celeste de leste para oeste.
Nesse caso, quando a constelação do Cruzeiro do Sul
é observável, a sua posicão no céu depende
da hora da observação e da latitude do observador.
Figura 7:- O desenho da forma da
constelação do Cruzeiro do Sul está correto, mas
não há indicação da
posição do pólo celeste Sul no Céu.
Empregar esse método de orientação,
levará o aluno a encontrar ao longo da noite diversas
posições para o Sul, ou seja: nunca será
estabelecida um orientação fixa.[7]
[7] Figura extraída
de:
Perugine, Erdna e Vallone, Manuela Diogo; Mundo
Mágico: Estudos Sociais, Ciências,
Programa de Saúde - Livro 3, pg. 25, São Paulo, Editora
Ática SA., 1990. |
As figuras 8 e 9 mostram, numa escala mais apropriada, como
a constelação aparece no céu. Hoje em dia é
possível imprimir fotos em livros, o que nesse caso seria ideal,
mesmo que de baixa qualidade, representaria o céu com mais
fidelidade ou, no mínimo será igual a essas figuras; onde
ao menos existe o conceito correto, embora não exista
indicação da dimensão das divisões
lá desenhadas e no texto não há qualquer
explicação sobre como interpretá-las.
Orientação pelo
Cruzeiro do Sul
A noite, podemos nos orientar pelas estrelas.
O Cruzeiro do Sul é uma
constelação em forma de cruz que ajuda a nossa
orientação. A ponta da cruz indica sempre a
direção Sul.
|
Figura 8:- Uma
representação correta da orientação
através do Cruzeiro do Sul, apesar de não haver detalhes
no livro texto de como localizar o Pólo Celeste Sul no
céu e, em decorrência a direção do
Pólo Sul.[8]
Deve-se, dizer que as quatro
divisões mostradas nas figuras 8 e 9 têm o tamanho do
braço maior da cruz. Dessa maneira, em qualquer
posição que o Cruzeiro do Sul estiver, será
possível achar com relativa precisão o Ponto Cardeal Sul.
[8] Fragmento
extraído de:
Passos, Lucina; Fonseca, Albani; Chaves, Marta; Alegria
de Saber: Estudos Sociais,
Ciências e Programa de Saúde, - Livro 2, 1°.
grau, pg. 15, São Paulo, Editora
Scipione, 1988. |
Orientação
pelo Cruzeiro do Sul
A noite, podemos nos orientar pelo Cruzeiro do Sul.
O Cruzeiro do Sul é uma
constelação que possui a forma de um cruz. A ponta da
cruz indica sempre a direção sul.
|
Figura 9: - Nessa versão dos autores para os alunos da terceira
série não há indicação da
localização do Pólo Sul. Houve aqui um retrocesso
em relação ao apresentado no livro texto para os alunos
da segunda série.
[9] Fragmento
extraído de:
Passos, Lucina; Fonseca, Albani; Chaves, Marta; Alegria
de Saber: Estudos Sociais,
Ciências e Programa de Saúde, - Livro 3, 1°.
grau, pg. 15, São Paulo, Editora
Scipione, 1988. |
Em particular para um observador em
São Carlos, num dia de dezembro, que ao observar o Sol nascendo
marque sua posição como sendo o ponto cardeal Leste e, a
noite, ao observar o Cruzeiro do Sul nascendo marque sua
posição como sendo o Sul; se ele o interpretar assim e
como os livros didáticos não são claros em suas
explicações, ele verá facilmente que os pontos
cardeais sul e leste não estão a 90o um do
outro. Na verdade estarão a 35o um do outro. Um erro
muito grande!
Um garoto que aprenda a encontrar os Pontos
Cardeais pelos métodos apresentados nos livros didáticos,
não poderá trabalhar nem mesmo como instalador de
antenas. Para apontar uma antena parabólica para o
satélite, ele deverá conhecer a localização
dos Pontos Cardeais com erro menor que dois graus.
3.1.1 Métodos
Corretos para Determinação dos Pontos Cardeais
Um procedimento correto para
determinação do ponto cardeal Sul foi encontrado em
[BOCZKO], página 32. O procedimento lá apresentado
é utilizado quando se deseja a obtenção precisa
dos pontos cardeais e, realmente, é inadequado para ser ensinado
no primeiro grau, até a quarta série. Porém, se
for simplificado pela sugestão a seguir, torna-se mais adequado
e proporciona uma aula prática bastante instrutiva, pois,
além dos pontos cardeais, a criança pode tomar contato
com os assuntos de geometria sem que se aborde qualquer conceito
formalmente. A simplificação do procedimento torna a
determinação menos precisa, no entanto, será muito
mais correta do que qualquer dos métodos citados nos livros da
rede de ensino e, se considerarmos regiões como o Estado de
São Paulo, o procedimento simplificado ainda é mais
preciso que a utilização da bússola, pois sabe-se
que os pólos magnéticos da Terra não coincidem com
os pólos geográficos, conforme [BOCZKO] página.
55, e no caso da Aviação, da Navegação e da
Agrimensura, esse erro é considerado significativo. Em
São Carlos a diferença entre o ponto cardeal Sul
magnético e o ponto cardeal Sul verdadeiro ou geográfico
é cerca de dezessete graus.
3.2.1 Sugestões
para determinação dos Pontos Cardeais
Pelo
Sol - Orientação
diurna
Finquemos, num plano horizontal, uma vara
vertical (gnômon) e observemos o caminho da sombra no decorrer do
dia. No nascer (e no pôr do Sol) a sombra será muito
grande. Esperemos que a sombra diminua seu tamanho até um
horário próximo das dez ou onze horas. Nessa
situação, trace com um barbante uma circunferência
passando pela ponta da sombra (ponto A) e com o centro na base da vara
(ponto I). Marque o ponto A conforme mostra a figura 10. Depois do
meio-dia, espere até o momento em que a ponta da sombra toque
novamente na circunferência que você fez e marque esse
ponto sobre a circunferência (ponto B). Assim você
terá formado um triângulo se ligar os pontos A, B e I.
Marque um ponto (ponto M) na metade da linha que vai do ponto A
até o ponto B. Trace uma linha passando pelos pontos M e I. Essa
linha é a da direção norte - sul. Se você
traçar outra linha passando pelo meio da anterior, de maneira a
formar uma cruz reta, terá a direção leste -
oeste.
Figura 10: - Determinação dos pontos cardeais pelo
Gnômon.
O leste estará no lado do nascente,
porém não necessariamente no ponto onde o Sol nasce e sim
na direção da linha que você encontrou. O oeste
estará do lado do poente, porém não
necessariamente no ponto onde o Sol se põe e sim na
direção da linha marcada. Agora pode-se usar a regra do
livro: apontando o braço direito no sentido encontrado como
Leste, terá à sua frente o Norte e atrás o Sul, e
do lado esquerdo o Oeste. Note que antes de usar o procedimento adotado
pelos livros didáticos (uso dos braços para indicar os
pontos) as direções foram bem determinadas.
Um elemento adicional de
observação será colocar sobre o centro do desenho
uma bússola e marcar a direção Norte - Sul
Magnética. Dependendo da localidade onde sejá feito, os
alunos verão que a direção magnética
indicada pela bússola não coincidirá com a
direção Norte - Sul geográfica. Nesse momento
algumas considerações sobre o magnetismo terrestre
poderão ser feitas.
Pelo Cruzeiro do Sul - Orientação
noturna pelas estrelas
Nos exemplos que usam do Cruzeiro do Sul,
sem indicação do Sul, como o que está representado
nas figuras 6, 7 8 e 9, é possível que os autores dos
desenhos nunca foram capazes de identificar o Cruzeiro do Sul no
céu, pois os desenhos mostram a constelação numa
posição onde ela não está quando a
observamos da linha do Trópico de Capricórnio e ao mesmo
tempo é maior que qualquer constelação existente
no céu, ou seja, o contrário do que realmente é:
"uma das menores e numa posição mais elevada com
relação ao horizonte". Se alguém observar o
desenho e procurar pela constelação certamente não
encontrará.
No caso da observação noturna
através das estrelas, o procedimento para se encontrar os pontos
cardeais são os mais diversos. Em particular, nós podemos
utilizar a constelação do Cruzeiro do Sul, desde que se
indique onde está o Pólo Celeste Sul e,
através da figura 11, nós ressaltamos a falha dos livros
didáticos em não indicá-lo.
Figura 11: - Onde está o Pólo Celeste Sul? Pode estar em
qualquer ponto ao longo do alinhamento obtido a partir do madeiro maior
da cruz?
O procedimento correto consiste em
considerar que d
é o tamanho aparente do braço maior da
constelação do Cruzeiro do Sul. Ao longo do alinhamento
determinado pelo braço maior da cruz, nos devemos deslocar mais
quatro vezes a distância d
a partir da estrela inferior do Cruzeiro do Sul (Alfa Crucis ou Estrela
de Magalhães). Na extremidade desse deslocamento, nós
encontramos no céu o local do Pólo Celeste Sul. A partir
do Pólo Celeste Sul, nós descemos uma linha perpendicular
ao horizonte. O ponto de intersecção dessa linha
perpendicular com a linha de horizonte, determina o Ponto Cardeal Sul,
ou simplesmente Sul.
Figura 12: - Maneira correta de indicar o Ponto Cardeal Sul.
Ao procedermos como indicado na figura 12,
o observador estará voltado para o horizonte sul, para o
Cruzeiro do Sul, para o local estimado do Pólo Celeste Sul e
finalmente encontrará o local do ponto cardeal SUL.
Nesse procedimento, como o nós estamos voltados para o SUL, por uma questão de
simplicidade, será mais fácil para nós esticarmos
o braço esquerdo
(perpendicular) ao SUL,
encontrando o Leste. Ao esticarmos
o braço direito (perpendicular)
ao SUL ou colocando-o
oposto ao braço esquerdo, nós encontramos o Oeste e finalmente, as nossas costas, nós teremos o Norte.
3.2 Estações
do Ano
As "Estações do Ano"
são tratadas nos livros da rede de ensino com dois enfoques. O
primeiro, mais comum, é aquele que define as
estações do ano através das características
climáticas e, em geral, se limita a escrever, por exemplo:
- Verão: clima quente e necessidade de bastante
água;
- Outono: clima temperado e época dos frutos;
- Inverno: clima frio e necessidade de agasalhos;
- Primavera: clima temperado e época de ressurgirem
folhas e flores.
Porém, a análise desse enfoque não faz parte dos
objetivos desse trabalho e não será discutida.
O segundo enfoque é aquele que,
além das características citadas acima, tenta explicar
como ocorrem as estações, ou seja, qual o mecanismo que
leva à mudança das condições
climáticas. Nesse caso podemos separar os livros da rede de
ensino em dois grupos principais:
- As estações do ano ocorrem devido a
inclinação do eixo da Terra. A maioria limita-se a isso,
sem nenhuma explicação de como ocorre o mecanismo, nem
mesmo explicando em relação a quê o eixo terrestre
está inclinado.
- As estações do ano são provocadas
pela variação da distância da Terra ao Sol e um dos
argumentos usados é o fato da órbita ser elíptica,
ou seja, quando a Terra está mais próxima do Sol é
verão, e quando a Terra está mais afastada é
inverno e nas posições intermediárias, quando
está se afastando é outono e quanto está se
aproximando é primavera.
Vejamos o exemplo apresentado por [STAIFEL], o qual limita-se a
afirmar:
"A luz, o calor do Sol e a inclinação do
eixo da Terra são as causas das estações."
Apesar de considerarem a inclinação do eixo terrestre, os
autores se valem de um artifício falso ao considerarem o Sol
como uma "fonte pontual". O intuito era para dar a impressão que
o Sol se desloca de um trópico a outro. Na verdade, o Sol
é muito maior que a Terra e esse deslocamento aparente é
causado por dois fatores: a inclinação do eixo de
rotação da Terra com seu plano de órbita ao redor
do Sol associado ao movimento de translação, conforme
pode ser visto nas figuras 20 e 21. Vejamos as consequências do
recurso utilizado pelos autores e as correções
pertinentes a cada um dos esquemas empregados:
Figura 13:-Os erros:
O Sol foi colocado alinhado ao Trópico de Câncer para
induzir a ideia do deslocamento dele entre os trópicos. A partir
dele saem os raios solares que iluminam a Terra.[9]
As correções:
O Sol fictício em vermelho representa a sua
posição correta de forma que: no Solstício de
Verão do Hemisfério Norte, o Sol incidirá seus
raios perpendicularmente aos habitantes que se localizam ao longo
do Trópico de Câncer ao meio-dia-solar (passagem meridiana
do Sol e nesse caso ele atingirá o Zênite do observador).
Para os habitantes do hemisféro sul será Inverno e quanto
maior for a latitude sul, eles irão ver uma trajetória do
Sol baixa e cada vez mais próxima do horizonte Norte
respectivamente.
Com a posição correta do Sol; em azul estão
indicados os raios solares que efetivamente atingem a superfície
terrestre no momento do solstício, pois o Sol está muito
longe e o Sol fictício somente serve para indicar a
incidência perpendicular da luz solar sobre a superfície
terrestre no Trópico de Câncer. Com os raios solares em
azul é evidente a desigualdade de iluminação e
aquecimento entre os hemisférios Norte e Sul.
Figura 14:-Os erros:
Como o Sol está muito longe os raios que partem do Sol para
iluminar a Terra, estão completamente errados. [9]
As correções:
Nesse caso, o Sol fictício ficou na posição
correta, ou seja, durante os equinócios, na sua passagem
meridana, os observadores localizados sobre o Equador vêem-no
na direção zenital. Em azul está indicada a
incidência real dos raios solares, pelo fato de o Sol estar
muito longe da Terra. Observe que a posição dos raios
solares está completamente diferente em relação a
figura 13, pelo fato dos autores manterem o desenho da Terra
inclinada sempre do mesmo jeito. Como veremos, esse referencial
será muito inconveniente na próxima figura.
Figura 15:-Os erros:
Em decorrência da figura 13, novamente repete-se o erro de
colocar o Sol alinhado com o Trópico de Capricórnio para
indicar que nós atingimos o Solstício de Verão no
hemisfério Sul. De igual modo, os raios solares saindo desse Sol
fictício iluminam a Terra incorretamente. Por
último, nessa versão esqueceu-se de marcar o
Círculo Polar Antártico.[9]
As correções:
Em vermelho, nós indicamos o local correto do Sol
fictício, ou seja: no Solstício de Verão do
hemisfério Sul, os habitantes sobre a linha do Trópico de
Capricórnio vêem na passagem meridiana do Sol, ele ocupar
a direção zenital. Com a posicão correta do Sol,
em azul, nós representamos a incidência correta dos raios
solares. Obeservemos a disparidade da disposição da
luz solar, entre a figura 13 e a figura 15, em decorrência
dos autores manterem a Terra sempre inclinada para justificar a
ocorrência das Estações do Ano.
Figura 16:-Os erros:
Pela sistemática adotada pelos autores: Os erros
assinalá-dos na figura 14 tornam-se a repetir ao introduzirem o
último esquema sobre o Equinócio de Outono do
Hemisfério Sul para fechar o ciclo das Estações do
Ano. Apesar do Sol fictício indicar a incidência dos
raios solares perpendicular ao Equador, os demais raios que iluminam o
planeta estão errados. [9]
As correções:
Em azul, nós representamos a incidência correta dos raios
solares, como na figura 13, essa incidência claramente
indica que ambos os hemisferios são igualmete iluminados.
[9] Figuras 13,14, 15 e 16
extraídas de:
Staifel, R. D, et. al., Pelos Caminhos da
Ciência e Saúde, Livro 2, São Paulo,
Editora F.T.P. |
Apesar da preocupação com as
Estações do Ano serem devido a inclinação
do eixo da Terra, uma série de erros são cometidos:
- Não é o Sol que vai de um Trópico
ao outro e não há referências com
relação a que está inclinado o eixo de
rotação terrestre.
- O erro do deslocamento aparente do Sol; quando ele
está sobre qualquer um dos trópicos, não
está incidindo perpendicular à superfície na linha
do trópico, isto é, todos os raios solares indicados nos
desenhos são perpendiculares apenas no Equador.
Perpendicularidade a superfície nos trópicos é
confundida com parlelismo aos trópicos.
- A indicação dos raios solares saindo do
Sol fictício que passeia entre os trópicos não
ilustra bem a igualdade e desigualdade de iluminação e
aquecimento entre os hemisférios
O proxímo ponto a ser considerado, envolve a questão de
proximidade e afastamento da Terra do Sol como fator de justificativa
para o Verão e o Inverno respectivamente. Nesse caso um fato
muito elementar é ignorado: quando é verão num
hemisfério é inverno no outro, sendo assim os
hemisférios terrestres deveriam estar afastados cerca de cinco
milhões de quilômetros, pois quando a Terra está
mais próxima do Sol sua distância a ele é cerca de
147.5 milhões de quilômetros e quando está mais
afastada essa distância é cerca de 152.5 milhões de
quilômetros. Portanto, as Estações do Ano
não podem ser explicadas por esse mecanismo. Embora a Terra
tenha sua órbita elíptica, com o Sol num dos focos (1a.
Lei de Kepler), e por isso ocorre que numa época do ano ela
está mais próxima e seis meses depois está mais
afastada do Sol, não quer dizer que variação dessa
distância ao Sol provoque variações significativas
do clima, pois essa variação da distância é
cerca de 3.3%. Exemplos que usam esse modo de explicação
são mostrados nas figuras 17 e 18, onde estão grifadas as
passagens erradas.
No desenho da figura 17 é omitida uma
série de informações, como por exemplo: a falta do
plano da órbita para mostrar a perspectiva do movimento; a falta
do eixo de rotação com sua inclinação.
Essas e outras informações estão contidas na
representação mais adequada conforme a figura 20.
Além disso, o desenho não é coerente com o texto,
pois no desenho a Terra se aproxima e se afasta do Sol duas vezes por
ano, portanto deveríamos ter dois verões e dois invernos.
O outono e a primavera, onde ficam? Não há qualquer
explicação no texto nem no desenho.
Veja o Caminho que a
Terra faz:
Célia
quis imitar a Terra.
Riscou no chão o caminho
da Terra.
Fez uma Fogueira no centro, como
se fosse o Sol.
Rodopiando, Célia imitou
o caminho que a Terra faz todo ano. |
|
Quando passava perto da fogueira,
ficava mais iluminada e sentia mais calor.
Afastando, ficava menos iluminada e
sentia menos calor.
Célia concluiu que acontece
a mesma coisa com a Terra
- pasando perto do Sol, recebe
mais luz e calor;
- afastando-se do Sol, recebe
menos luz e menos calor.
O movimento da Terra ao redor do Soll
influi na temperatura que sentimos.
Enquanto a Terra gira ao redor do
Sol, acontencem as quatro estações do ano: verão,
outono, inverno e primavera.
|
Figura 17: - Estações do Ano devido a distância da
Terra ao Sol, uma maneira errada de ensinar.[10]
[10] Figura extraída
de:
Lopes, P. C., Vamos Aprender Ciências 2,
São Paulo, Editora Saraiva. |
A figura 18 além de apresentar o
mesmo tipo de erro da figura 17, tenta melhorar o nível das
informações colocando o eixo de inclinação
da Terra, mas comete um erro mais primário: O halo de luz
colocado ao redor do Sol cobre o desenho da Terra e produz um esquema
de iluminação errado sobre ela (Os pólos estariam
voltados para o Sol!?).
3)
Estações do Ano
Veja o que acontece quando a Terra
faz o movimento de translação:
Quando a Terra gira ao
redor do Sol, algumas partes dela recebem mais luz e calor do que
outras. Você sabe por que isso acontece?
Isso acontece porque a Terra gira sempre
inclinada e ela ora chega mais perto ora se afasta mais do Sol.
A inclinação da Terra em
relação ao Sol e o movimento de translação
dão origem às quatro estações do ano:
primavera, verão, outono e inverno.
As estações do ano variam
de um lugar para o outro. Em algunbs lugares, como no Brasil, elas
acontecem assim:
na primavera
há muitas flores. A primavera vai de setembro a dezembro.
no verão
faz mais calor. O verão vai de dezembro a março.
no outono
há mais frutas. O outono vai de março a junho.
no inverno
faz muito frio. O inverno vai de junho a setembro.
|
Figura 18: - Estações do Ano devido a distância da
Terra ao Sol, apresentando mais erros que o caso anterior.[11]
[11] Fragmento
extraído de:
Passos, Lucina; et.al., Estudos Sociais
Ciências e Programa de Saúde, Segunda
Série do Primeiro grau,
São Paulo, Editora Scipione,1988. |
A figura 19 mostra exatamente o mesmo tipo de erro e coloca
com mais evidência o Sol iluminado os pólos em duas
estações do ano. Nessas duas situações, a
Terra deveria transladar ao redor do Sol num plano de órbita
perpendicular ao plano orbital verdadeiro.
2. Complete:
a) Quando a Terra gira em torno do Sol, ela realiza
o movimento de______________________.
b) Para completar o movimento de
translação, a Terra leva _____ dia ou _____ano.
c) Esse movimento determina as quatro
estações do ______. São elas: __________,
__________, __________ e __________.
|
Figura 19: - Como seriam as Estações do Ano se a Terra
fosse iluminada dessa maneira?[12]
[12] Fragmento
extraído de:
Passos, C. et. al., Eu Gosto de
Ciências - 2a. Série, Editora Scipione, Companhia
Nacional. |
Se a translação da Terra fosse como
está mostrado nas figuras 18 e 19 fica muito difícil
imaginar como seriam as estações do ano. Em [PERELMAN]
página 55 existe uma explicação das
conseqüências desse fato.
Uma explicação simples e
mais correta para a ocorrência das estações do ano
pode ser uma explicação melhorada do primeiro caso, que
foi encontrada em [BOCZKO], [CABRAL] e [APOSTILA]. E, uma
sugestão para explicação das
Estações do Ano pode ser baseada na apostila, utilizada
no CDA. para cursos e consultas [APOSTILA]. Se compararmos com os
desenhos corretos das figuras 20 e 21, nós poderemos ver a
diferença entre o certo e o errado.
A Terra percorre em volta do Sol uma
órbita elíptica (movimento de revolução), a
qual é muito próxima de uma circunferência,
conforme pode ser visto na figura 20. Notemos que a Terra possui uma
inclinação do seu eixo de rotação com
relação ao plano de sua órbita e esta
inclinação permanece constante durante todo o ano.
Figura 20: - Situação real de movimento da Terra ao redor
do Sol, com indicação do início das
estações.
O esquema da figura 20 mostra a
trajetória da Terra vista por cima e, nesse caso, o plano da
figura corresponde ao plano da órbita terrestre. A
inclinação do eixo terrestre ao longo de sua
revolução, ao redor do Sol, permite que num determinado
instante o pólo norte esteja "inclinado para" o Sol
(início do Inverno no Hemisfério Sul) e cerca de seis
meses depois, haverá um instante com o pólo Sul
"inclinado para" o Sol (início do Verão no
Hemisfério Sul). Nas posições
intermediárias entre o verão e o inverno, nós
temos um determinado instante com a Terra numa posição em
que ambos os hemisférios são igualmete iluminados e
correspondem ao início das estações da Primavera e
do Verão.
Na figura 21, nós representaremos o
esquema anterior em perspectiva. Nela, nós veremos a
representação do plano da órbita terrestre
inclinado, ou seja, a figura 20 vista em perspectiva e, sem a devida
proporção do tamanho aparente do globo terrestre.
Figura 21: - Uma representação correta da
posição terrestre em relação ao Sol para
justificar as estações do ano.
As figuras mal construídas nos
livros didáticos permitem uma interpretação
incorreta do mecanismo das estações do ano.
Pela figura 22, no dia 21 de junho, ao meio
dia local, o Sol estará exatamente sobre a cabeça de um
observador que esteja sobre o Trópico de Câncer. Esse
é o instante do início do Verão no
hemisfério norte, enquanto que para outro no Trópico de
Capricórnio, o Sol será visto bem ao norte, ou seja,
inclinado, conforme mostra a figura 22.
Figura 22: - Inclinação dos raios solares mostradas para
o início do verão no hemisfério norte e
início do inverno no hemisfério sul.
No dia 22 de dezembro, ao meio dia local,
o Sol estará sobre a cabeça de um observador que esteja
sobre o Trópico de Capricórnio e será visto bem ao
sul para outro que esteja sobre o Trópico de Câncer.
Nessas situação em que o Sol está sobre a
cabeça do observador é considerado início do
verão para aquele hemisfério da Terra desde que o
observador esteja sobre a linha do trópico, ou seja, o
verão no hemisfério norte tem início em 21 de
junho e para nós é início do inverno. Ao
contrário o verão para nós tem início em 22
de dezembro e para o hemisfério norte tem início o
inverno. Quando o Sol for visto sobre o Equador em 23 de setembro
será início da primavera para o hemisfério sul e
início do outono para o hemisfério norte. E quando for
visto novamente sobre o Equador em 21 de março será
início do outono para o hemisfério sul e início da
primavera para o norte.
Pela figura 23 pode-se notar que na
região do pólo norte a incidência da luz solar
é bem inclinada e, por isso, os pólos são pouco
aquecidos. Nós podemos perceber também que o planeta pode
dar um volta completa (rotação) que um dos pólos
não será iluminado, enquanto que o outro não
terá noite. Essa situação só mudará
depois de alguns meses quando o planeta já tiver transladado de
lugar e o outro hemisfério estiver mais exposto à luz do
Sol. Esse fato é o motivo que faz com que o dia claro seja maior
no verão que no inverno em decorrência da
inclinação do eixo terrestre.
Figura 23: - Iluminação
dos pólos. Note que o polo norte permanece iluminado e o polo
sul no escuro, mesmo que a Terra complete uma rotação.
Isso ocorre quando é verão no norte e inverno no sul.
Dois observadores localizados numa mesma longitude (A e B) mas em
paralelos diferentes, nós podemos notar pela figura que o
observador A do hemisfério norte no início do
verão (solstício de verão) verá o Sol
nascer antes do observador B do hemisfério sul. Para o
observador B do hemisfério sul, nós temos a noite mais
longa do ano e o período de claridade mais curto.
Por fim:
- As mudanças de temperatura ocorrem devido a
maneira como o Sol nos ilumina, ou seja, quando ele está sobre a
nossa cabeça ele nos aquece mais e quando está inclinado
nos aquece menos. Vimos acima que esta situação ocorre,
pois no inverno ao meio dia vemos o Sol bem inclinado para a
direção norte, e portanto nos aquece menos, e no
verão ao meio dia está aproximadamente acima de nossas
cabeças e por isso nos aquece mais.
-
A passagem do Sol sobre as nossas
cabeças, ou seja, de ele vir a ocupar a direção
zenital, somente será possível para os observadores que
estejam localizados na zona equatorial. Para os observadores da zona
temperada e da zona polar, jamais essa condição
ocorrerá.
3.3 Fases
da Lua
As fases da Lua são normalmente
citadas como sendo quatro, a saber: Nova, Crescente, Cheia e Minguante
e para indicá-las, é usada uma
representação que apesar de ter fundamentos corretos,
não é explicada adequadamente, gerando erros de
interpretação e dúvidas. No melhor dos casos a
representação diz que quando a Lua apresentar a forma de
um "C" é crescente, quando apresentar a forma de um "D" é
minguante, quando não for visível é nova e quando
estiver redonda no céu é cheia, a exemplo da figuras 24 e
25. Porém, a maneira natural de se observar a Lua é
estando de frente para ela e, nessa situação, nem "C" nem
"D" são observados na forma da Lua. Na verdade, o que é
visto está esquematizado na figura 26. Deve-se levar em conta
que a posição da Lua, para a mesma fase, se altera de
mês para mês, pois seu plano de órbita não
é o mesmo da Terra e por isso sua posição com
relação ao Sol se altera, podendo estar até cinco
graus ao sul ou cinco graus ao norte do Sol.
Figura. 24: - Formas da Lua usadas para mostrar suas fases. Essa
representação usada em calendários e não
identifica necessariamente as fases da Lua.[13]
Figura 25: - Como o aluno saberá qual é a fase crescente,
minguante ou nova? - As três marcadas com "?"pode ter as resposta minguante ou
crescente e nenhuma é Lua nova.[13]
[13] Figuras 24 e 26
extraídas de:
Passos, C. et. al., Eu Gosto de
Ciências - 2a. Série, Editora Scipione, Companhia
Nacional.
OBS.: Estas figuras foram coloridas para representar melhor o desenho
do livro. |
Figura 26: - Duas posições e
formas possíveis da Lua que ocorre na crescente ou na minguante
e tanto "C" quanto o "D" podem ser vistos, sem que isto decida em que
fase está. Além do mais o Sol pode estar no nascente ou
no poente!
As formas mostradas na figura 26 são
as mesmas tanto para a minguante quanto para a crescente quando olhamos
de frente para a Lua.
Um modo eficiênte de identificar a fase lunar, consiste em
verificar para qual horizonte a face iluminada está voltada.
Caso a face que reflete luz esteja voltada para o Oeste, nós
estamos no estágio de crescente, caso contrário se a face
que reflete luz esteja voltada para o nascente, nós temos o
estágio de minguante.
Esses detalhe na maneira de observá-la são suficientes
para fixar um referencial e eles não foram encontrados em nenhum
dos livros usados na rede de ensino da cidade. A confusão quanto
a isso fica clara quando as pessoas que visitam o C.D.A., tentam
identificar a fase da Lua e não conseguem, a menos que usem um
calendário, pois não encontram o "C" ou "D".
Outro detalhe muito importante é
observado nos desenhos que mostram as fases da Lua em
função da sua posição ao redor da Terra,
como é o caso da figura 27. Se as fases ocorressem com mostra a
figura deveríamos ter dois eclipses a cada
revolução da Lua ao redor da Terra, pois sua
órbita foi colocada no mesmo plano que a órbita da Terra
ao redor do Sol. Quando fosse lua cheia a Terra produziria sombra na
Lua (eclipse lunar) e quando fosse lua nova a Lua produziria sombra na
Terra (eclipse solar).E esse fato não ocorre, pois a
órbita da Lua está cinco graus inclinada com
relação a órbita da Terra, como pode ser visto no
esquema da figura 27. Ainda na figura 27, pode-se notar que a Lua Nova
está indicada como lua cheia e a própria está
indicada como lua nova.
Figura 27: - Órbita da Lua erroneamente representada no mesmo
plano da Terra. Lua Cheia trocada
com a Lua Nova.[14]
[14] Figura extraída
de:
Beçak, M.L. et. al., Aprendendo
Ciências - Livro 3, Editora FTD, 1976. |
Além das confusões e
dúvidas observadas pelos monitores do C.D.A., com o
público em geral, o mesmo tipo de confusão pode ser
registrado em alguns depoimentos dos alunos de Magistério, como
veremos mais adiante. Alguns dos entrevistados acreditam que a forma da
Lua muda no céu devido a sombra que a Terra projeta sobre ela (o
que seria um eclipse).
3.3.1 Definição de Fase
Nas várias noites em que olhamos para
o céu à noite, e mais especificamente para a Lua, notamos
que ela muda constantemente de aparência ao longo do mês.
As vezes ela aparece cheia, outras vezes com a metade iluminada e
outras ainda como um simples filete de luz.
Fase: A Fase
de um objeto astronômico corresponde ao aspecto que apresenta um
astro sem luz própria, planeta ou satélite, de acordo com
as condições de iluminação solar vistas de
um ponto qualquer de observação, por exemplo da Terra ou
de uma nave espacial.
3.3.2 Representação
das Fases Lunares
Uma vez explicada a definição de fases, os
desenhos corretos para representar cada uma das fases lunares
são os seguintes:
Figura 28: As Fases Lunares. Representação do aspecto
visual do disco lunar (a).
O esquema da Figura 28 representa o aspecto do disco lunar visto pelo
observador terrestre. Convém observar que no Quarto Minguante e
no Quarto Crescente, a parte visível tem a forma de um
semicírculo. A Lua Nova corresponde a um círculo completo
e somente o contorno marcado para indicar a face iluminada, ao passo
que a Lua Nova tem o círculo inteiramente pintado de preto. Um
segundo esquema alternativo (b) seria o seguinte:
Figura 29: As Fases Lunares. Representação do aspecto
visual do disco lunar (b).
No esquema da Figura 29, os contornos
representam as partes lunares que estão refletido luz na
direção do observador. Como nós não estamos
usando uma região preenchida com a cor preta para indicar a
parte não visível, não é necessário
desenhar a Lua Nova.
Uma observação importante,
refere-se ao nome Quarto Crescente
ou Quarto Minguante pelo emprego
da palavra QUARTO. Nesses dois
casos o observador vê a metade de um disco lunar a qual
corresponde a metade da metade iluminada da superfície lunar.
Daí decorre o uso fracionário; um quarto (1/4) da
superfície lunar é visto refletindo luz para o observador
terrestre.
As formas representadas correspondem a
situações geométricas muito bem definidas na
posição relativa entre Sol - Terra - Lua e no aspecto
visível da Lua para um específico observador na
superfície terrestre. Em particular a Lua Nova e a Lua Cheia
ocorrem quando os três corpos Sol, Terra e Lua determinam um
plano perpendicular ao plano da órbita terrestre. Para a Lua no
Quarto Minguante e a Lua no Quarto Crescente, o nosso satélite
natural ocupa o vértice de ângulo reto do triângulo
retângulo (QUADRATURA), com o Sol e a Terra ocupando os dois
outros vértices. O Sistema Sol - Terra - Lua permite explorar
elementos geométricos como o plano, a reta, o triângulo
retângulo, a esfera, o círculo, o semicírculo, etc,
bem como o uso de frações para nós definirmos as
fases lunares.
3.3.3 A
sucessão das fases lunares
Quando pegamos uma esfera (bola de isopor)
em um ambiente escuro e a iluminamos com uma única fonte de luz
(lanterna), ela terá apenas uma parte de sua superfície
iluminada, a qual nós vemos devido a reflexão da luz
incidente sobre sua superfície. Sabemos que a Lua gira ao redor
da Terra em uma órbita elíptica. Com esse conhecimento,
vamos exemplificar algumas posições da Lua no decorrer do
Mês Lunar. E, um outro fator importante a ser considerado
corresponde ao fato de o plano da órbita lunar não
coincidir com o plano da órbita terrestre:
Figura 30: O plano de órbita da Lua e da Terra.
O esquema da figura 30 ilustra a realidade da disposição
Sol - Terra Lua no espaço. E por uma questão de
simplificação, nos vamos colocar a sucessão das
fases lunares em um esquema plano.
Figura 31: Sucessão das Fases Lunares. Observação:
O Plano de Órbita da Lua não coincide com o
plano da órbita terrestre. Esse esquema apresenta diversas
falhas que não prejudicam a condição da
ocorrência da fase lunar.
Ao consideremos a Lua na
posição A. Quem estiver do lado iluminado da Terra, ou
seja, de dia, não consegue ver a Lua, vendo apenas o Sol (para
poder vê-la teria que olhar através do chão!!!).
Já quem está do lado escuro da Terra, ou seja, de noite,
consegue ver a Lua. Essa pessoa verá a face da Lua totalmente
iluminada. Nesse ponto, nós estamos na fase de “Lua Cheia” para
o observador a. Como já sabemos, a Lua vai se movendo para o
ponto B. Quem estiver daquele lado da Terra perceberá que aos
poucos uma parte da Lua deixa de ser iluminada. Ao chegar no ponto B,
veremos somente um quarto da Lua (o outro quarto estará escuro).
A esta fase nós chamamos de “Lua no Quarto Minguante” para o
observador b. Continuando seu caminho, quando a Lua chegar ao ponto C,
ela terá a face escura (não iluminada) voltada para a
Terra. Devido a luz do Sol, que torna a nossa atmosfera muito brilhante
e azul, o ofuscamento nos impede de ver a Lua. A esta fase nós
damos o nome de “Lua Nova” para o observador c. Mais adiante, quando a
Lua estiver indo para o ponto D, nós veremos que aos poucos uma
fração dela começa a ser iluminada pelo Sol
até que ela chegue exatamente no ponto D, quando recebe
então o nome de “Lua no Quarto Crescente” para o observador c. A
partir desse ponto, a Lua continua seu movimento de
translação ao redor da Terra sendo que a parte iluminada
cresce cada vez mais até atingir novamente o ponto A, quando o
ciclo recomeça. Este ciclo de fases tem um período de
29,5 dias, que nós definimos como sendo um mês lunar. A
este mês lunar nós damos o nome de Período
Sinódico da Lua. Observe que sempre entre dois Quartos
Crescentes, ou entre duas Luas Cheias e assim por diante o intervalo de
tempo decorrido será sempre de 29,5 dias. Veja que esse valor
é muito próximo de 30 dias e por isso num ano de 365,25
dias nós temos 12 meses relativos as dozes
lunações que ocorrem aproximadamente dentro de um ano
terrestre. Outra característica importante da Lua é que a
sua rotação e translação são
sincronizadas. Isso permite que o nosso único satélite
natural apresente sempre a mesma face voltada para a Terra. O ponto X
na Figura 31 representa uma montanha lunar que ao longo do
período sinódico lunar mantém-se sempre voltada
para a Terra. Lembremo-nos que normalmente nós usamos os termos:
Lua Cheia, Lua Nova, Quarto Minguante e Quarto Crescente para os
períodos entre essas fases, o que está errado. Quando
dizemos que a Lua está cheia, ela estará nessa
condição num determinado instante e para um
específico observador na superfície terrestre, pois
após esse instante, ela estará caminhando para o Quarto
Minguante, ou seja, devemos dizer que a Lua está minguando.
4. Segundo Procedimento
(Avaliando o
Magistério)
Baseando-se nos fatos apresentados e na
experiência adquirida pelos monitores do C.D.A. em cursos
anteriores oferecidos para alguns professores, observou-se claramente o
espanto e a surpresa ao verem o que ensinavam a seus alunos; sendo
assim, decidiu-se por um levantamento dos conhecimentos que os alunos
de magistério têm com relação a estes
assuntos, pois de acordo com o programa de ensino do Estado de
São Paulo, os temas discutidos até aqui são
objetos de estudos de alunos de primeira a quarta série do
primeiro grau e são justamente os alunos de magistério
que serão seus professores. Então, foi pedida
permissão para professores e diretores das escolas de
magistério da cidade, para que fossem tomados depoimentos dos
alunos de quarto ano sobre os assuntos já citados. Escolheu-se
alunos do quarto ano, supondo-se que eram os melhores preparados para
ensinar, pois no ano seguinte seriam considerados professores.
A coleta dos depoimentos foi feita em classe
e na presença do(a) professor(a), que cedeu o horário de
aula. Os alunos não foram avisados da natureza dos depoimentos,
portanto não tiveram tempo de realizar qualquer pesquisa, pois o
que nos interessava era o conhecimento que tinham adquirido até
aquele momento. Assim, achamos que a análise seria mais real.
Porém, eles podiam discutir entre si, a vontade.
Como foi proposto nos objetivos os
depoimentos seriam tomados verbalmente e caso houvessem respostas muito
distintas, seriam tomados por escrito.
Para o tema "Pontos Cardeais", não
foram necessários depoimentos escritos, já que as
respostas foram praticamente as mesmas.
Foi perguntado como eles fariam para ensinar
aos seus futuros alunos, a localização dos pontos
cardeais. As respostas concordaram bastante entre si e com os
procedimentos ensinados nos livros da rede de ensino, ou seja, tomariam
o Sol ou o Cruzeiro do Sul como referência e localizariam um dos
pontos cardeais e consequentemente os demais. As únicas
discordâncias apresentadas, foram confusões como: qual
braço apontar para o nascente ou para o poente, igualmente
apresentadas nos livros, como é o caso da figura 2.
Quando foram abordados os temas:
"Estações do Ano" e "Fases da Lua", já não
foi possível fazer uma análise das respostas verbais,
pois as discordâncias se tornaram significativas. As perguntas
foram semelhantes a anterior: como eles fariam para transmitir a seus
alunos os mecanismos de ocorrência das estações do
ano, e foi ressaltado que as respostas deveriam ter o enfoque
astronômico e não o que as estações
representavam em alterações climáticas. Para
ressaltar o enfoque astronômico foram dadas dicas como: "É
devido a inclinação da Terra!?"; ou "É devido a
distância da Terra ao Sol!?"; e como eles transmitiriam o
mecanismo de ocorrência das fases da Lua, para seus alunos.
Quando foram pedidos seus depoimentos
escritos, as perguntas tiveram que ser mudadas, pois houve a
alegação de que seria muito difícil colocar no
papel seus procedimentos em sala de aula. Por isso, foi pedido que eles
dessem apenas a idéia de seus conhecimentos, da maneira que
achassem mais adequada, podendo usar desenhos ou
explicações que lhes fossem convenientes, não
sendo necessário entrar nos detalhes necessários para
explicar a uma criança.
Foi coletado um total de cento e treze
depoimentos, de quatro classes do quarto ano e uma classe de terceiro
ano, que se interessou e pediu participação. Como os
professores informaram que os temas abordados não são
objetos de estudo do Magistério, foi considerado que os
conhecimentos dos alunos, com relação aos temas,
não seriam alterados do terceiro para o quarto ano e por isso
foi permitida a participação da classe do terceiro ano.
Como houve pouca uniformidade das respostas,
ficou muito difícil fazer uma análise para cada grupo de
respostas coincidentes. Sendo assim, serão apresentadas apenas
tabelas (Anexo A), uma para Estações do Ano (Tabela I) e
outra para Fases da Lua (Tabela II), mostrando sucintamente qual a
maneira que usariam para explicar a seus alunos.
Numa rápida observação
das tabelas pode-se notar que a maioria declarou não saber
explicar o que foi pedido. Aqueles que acreditavam saber, mostraram
confusões e erros graves de conceitos em suas
explicações. Uma outra parte deu respostas evasivas,
adotando outro enfoque. Apenas uma pequena parte (menor que 3%)
apresentou respostas corretas ou que davam a idéia de saber os
conceitos embora não conseguissem explicá-los.
Esses alunos de magistério tinham
contato com os livros usados na rede de ensino e usaram em suas
explicações, as figuras e os textos contidos nesses
livros. Porém, muitos deles misturaram
informações, como por exemplo: fases da Lua foi misturada
com eclipses, isto é, usaram a sombra da Terra para explicar a
ocorrência das fases lunares. Outras explicaram
estações do ano usando o mesmo tipo das figuras 17 e 18 e
usaram o desenho mostrado na figura 32, igualmente errado.
Figura 32: - Variação da
distância Terra - Sol muito exagerada. A indicação
da órbita é perpendicular ao plano de órbita
real!?. Falta a representação do eixo de
rotação da Terra. Não há diferença
se é noite ou dia sobre o globo terrestre.[15]
[15] Figuras
extraídas de:
Passos, L. et. al., Alegria de Saber,
Estudos Sociais, Ciências e Programas de Saúde, segunda
série do primeiro grau, Editora Scipione. |
Esse tipo de propagação dos
erros é uma prova concreta de que os livros deveriam receber uma
atenção especial, principalmente porque ficou claro que,
o professor não procura uma bibliografia mais especializada para
ensinar seus alunos. Ele usa o próprio livro texto e tenta
interpretar o que o autor quer dizer para depois tentar ensinar aquilo
que ele não sabe. E, com isso chegamos a resultados e
explicações incorretas como o da figura acima!
5. Terceiro Procedimento
(Reformulando o Curso de
Astronomia do CDA)
Em várias reuniões com os
membros do C.D.A. pode-se avaliar as etapas anteriores e ter uma
idéia da dimensão do problema, ou seja, a maioria dos
entrevistados declararam não saber como se expressar devido a
pouca noção que tinham sobre os temas e os demais
mostraram que sabiam pouco e errado. Dessa maneira ficou fácil
decidir o que fazer a seguir. Sem muita discussão decidiu-se por
realizar um curso de aproximadamente vinte horas, abordando
principalmente os temas desse trabalho. O curso deveria satisfazer os
seguintes requisitos:
* Ser diferente dos cursos ministrados
até então, ou seja, deveria abordar no máximo
quatro tópicos, sendo os três desse trabalho e o quarto
que trata das características do sistema solar, tais como: dar
uma idéia do que é o Sol e os planetas. Não
deveria ser um curso extenso, com muitos temas, como por exemplo, para
dar uma idéia global de Astronomia, abordando, além dos
já citados, outros temas, como, História da Astronomia,
Cosmologia, Instrumentação, Astronáutica, etc.;
* Cada tópico desse trabalho deveria
contar com uma parte prática, que consistia em realizar o
experimento do Gnômon e simular as Fases da Lua e
Estações do Ano, com a máxima fidelidade
possível no que se refere a posição dos Astros;
* O monitor responsável por cada tema
e os demais que estiverem presentes, deveriam ficar atentos para as
dificuldades encontradas pelos alunos de magistério, pois havia
a suspeita de que suas deficiências não eram somente de
Astronomia, mas também nos requisitos necessários ao seu
entendimento;
* Tentar desfazer as idéias
anteriores que eles tinham sobre os assuntos (a parte mais
difícil). Nós percebemos no primeiro dia do curso que
isso deveria ser feito, o quanto possível de forma pessoal,
quando fossem tiradas as dúvidas, pois cada um tinha uma
idéia diferente da ocorrência dos fenômenos ou, se
tinham as mesmas idéias, as dúvidas residiam em pontos
diferentes;
* Os alunos seriam submetidos a uma
avaliação individual e com consulta, para que
pudéssemos verificar a validade de tipo de curso e até
que ponto as deficiências foram supridas, ou identificar outras
deficiências anteriores a essas;
* Os inscritos não podiam ter
participado de nenhum curso desse tipo, assim como aconteceu com os
alunos dos quais tomamos os depoimentos.
O primeiro curso foi ministrado em fevereiro
de 1992, quando uma das escolas nos enviou uma turma com trinta alunos
de terceiro e quarto anos de magistério. Em agosto de 1992 a
outra escola nos enviou uma turma com as mesmas características
e o curso foi repetido.
Todos os requisitos puderam ser cumpridos
sem problemas. As partes práticas foram as que geraram o maior
interesse e acabou sendo uma boa fonte de avaliação, pois
as próprias dúvidas dos alunos acabaram mostrando suas
necessidades e deficiências.
Quando foram submetidos a
avaliação (prova escrita, com consulta), os resultados
já podiam ser previstos e não foram diferentes, a
média das notas foi 2.75, para nota de 0 a 10 . Faltam a esses
alunos as noções básicas e mesmo intuitivas da
geometria, até as noções que poderiam ser passadas
à criança, os alunos não a possuem. Segundo os
monitores do CDA é mais fácil mostrar esses conceitos
para as crianças, pois estas não possuem idéias
pré-concebidas, e o que é pior, os alunos do
magistério tem-nas pré-concebidas e erradas sobre tais
assuntos. Isso pode ser considerado como o resultado dos desenhos sem a
perspectiva adequada, pois os alunos insistiram em ver todas as
órbitas ocorrendo num único plano. Não havia uma
noção mínima de movimento em planos distintos e
inclinados um com relação ao outro.
Numa das reuniões onde foi feita
análise do curso, um dos monitores fez a seguinte
citação que considerei importante e conclusiva:
"- Na verdade são encontradas muitas
pequenas deficiências que podem ter diversas origens: falta-lhes
leitura de cultura geral, o que lhes proporcionaria bastante
experiência como professor; falta-lhes um treino mínimo
para raciocínios simples, ou seja, não conseguem fazer
pequenas deduções a partir de dados ou
informações claras e simples. Essa dificuldade de
raciocínio é algo pouco notado quando damos cursos
às crianças até doze anos".
Chegou-se a conclusão que esse tipo
de curso não era suficiente para resolver o problema, mas serviu
bem ao propósito de avaliar melhor o problema. Pode-se
identificar uma das origens do problema e assim optar por uma
solução mais acertada. Como resultado desses dois cursos,
ficou combinado com os professores do magistério que durante um
ano os professores de matemática e física ensinariam
todos os conceitos básicos necessários para o
entendimento dos temas citados nesse trabalho. No ano posterior, os
alunos teriam aulas com a equipe do C.D.A. para que os assuntos
pudessem ser ensinados com tempo suficiente para
assimilação e observações mais completas,
pois teriam um ano para fazê-las.
6. Discussão
e Conclusão
O ensino de Astronomia, se for bem
utilizado, pode oferecer grande vantagem no aprendizado de uma
criança, pois como já dissemos faz parte da curiosidade
natural do ser humano, porém só constatamos uma parte
disso: a curiosidade natural da criança que freqüenta o
CDA., seja para visita ou para realizar trabalhos. No que diz respeito
ao ensino fica muito a desejar.
O mau uso desse ensino começa pelos
autores de livros didáticos. Todos eles - inclusive aqueles
não citados - não exploram os assuntos de Astronomia,
apenas citam-nos e muito superficialmente; aqueles que tentam
esclarecer um pouco mais cometem erros e, quanto mais
informações tentam passar introduzem mais erros, mesmo
assim não conseguem escrever mais do que cem palavras sobre o
assunto e alguns desenhos - todos com erros, sem
proporções e nenhuma perspectiva geométrica. Uma
citação do orientador dá uma idéia de como
eles escrevem seus livros: - "A impressão que se tem é
que eles não sabem nada sobre o que estão escrevendo e
só o fazem porque faz parte do programa de ensino e vivem desse
'trabalho'. Não é feita qualquer revisão daquilo
que está escrito."; ou mesmo quando comentava com um colega
sobre esse trabalho e reclamava sobre o excesso de disciplinas
pedagógicas e a falta de disciplinas que tratam do
conteúdo dos programas de ensino, ele comentou o seguinte:
"Pedagogia parece mágica, os pedagogos tentam lhe mostrar como
você deve ensinar aquilo que você não sabe". Quando
lemos os assuntos de Astronomia em livros da rede de ensino é
como se os autores dissessem: - aqui tem um prato muito saboroso, mas
vocês não poderão saboreá-lo, só
poderão vê-lo através de uma lente distorcida.
Tem-se a nítida
sensação que há uma certa rejeição
ao ensino da Astronomia, visto que não é objeto de estudo
para alunos do Magistério, embora seja objeto de ensino e em
muitos livros são encontradas explicações
incompletas e erradas, que levam a erros de interpretação
e geram muito mais dúvidas do que esclarecem.
Quando se prepara alguém para educar,
espera-se primeiro que essa pessoa seja formada sobre o assunto que
irá ensinar com mais rigor do que ensinará. Portanto esse
assunto deveria ao menos fazer parte dos currículos escolares
dos alunos do Magistério e eles deveriam receber uma
formação mínima.
Um agravante dessa situação
ocorre quando o educador precisa decidir que livro adotará.
Certamente ele não saberá escolher aquele que apresenta a
explicação mais correta, presumindo que todos estejam
corretos, - afinal são livros - provavelmente escolherá
aquele que for mais fácil de "entender", ou de explicar, e que
usem uma linguagem simplificada, mas sem que o professor saiba que esse
traz como conseqüência o uso de conceitos errados, como
é o caso das estações do ano, explicadas pelo
afastamento da Terra devido a órbita elíptica.
Não é esperado que o educador
seja um perito em todos os assuntos que irá ensinar, mas que
tenha um senso crítico para avaliar e questionar seu material de
ensino e rejeitar aquilo que fere o conhecimento da Natureza tomado
como certo.
Espera-se com esse trabalho sensibilizar
pessoas que possam provocar mudanças nessa
situação, já que o ensino da Astronomia pode ser
usado para desenvolver e despertar a criança para o aprendizado,
quando lhe damos asas à sua curiosidade natural e instrumentos
para satisfazê-la.
Cabe dizer que o novo estatuto da
criança estabelece num dos seus artigos que: "toda
criança tem direito a educação numa escola
pública, tem direito de ser respeitada pelo professor e o ensino
deve ser adequado a realidade da criança". Pelo presente
trabalho pode-se interpretar que este artigo do estatuto não
está sendo cumprido, pois há desrespeito quando a
criança recebe do professor informações erradas e
não adequadas a sua realidade, quando nem mesmo o professor sabe
o que está ensinando.
6.1 Proposta
de Continuidade
Uma proposta para continuidade desse
trabalho já está em andamento conforme o último
parágrafo do procedimento III, onde os próprios
professores do magistério estão colaborando para que se
elabore uma alternativa de solução para esse tipo de
problema.
Este trabalho apresenta os conceitos
corretos, embora não sejam muito didáticos. Poderiam ser
elaboradas apresentações mais didáticas dos temas,
tomando-se o cuidado para não se criar novos tipos de erros.
Este mesmo tipo de análise poderia se
estender a outras áreas do ensino, no caso delas apresentarem
esse tipo de problema.
7. Referências
Bibliográficas
APOSTILA de apoio, - Centro de Divulgação da
Astronomia de São Carlos.
BAKULIN, P.L. e outros; Curso de Astronomía
General, Editora Mir Moscú, Tradución al espanol -
1987.
BOCZKO, R.; Conceitos de Astronomia, Editora Edgard
Blucher Ltda, 1984.
CABRAL, M.V.; Lições de Cosmographia,
Livraria Jacintho - Editora, 2a. Ed., 1932
CANIATO, R.; O Céu - "Vol. 1 do Projeto
Brasileiro para o Ensino de Física", Fundação
Tropical de Pesquisas e Tecnologia, 3a. Ed. 1987.
MOURÃO, R.R.F.; Dicionário
Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Editora
Nova Fronteira, 1987.
PERELMAN, J.I.; Brincando Com Astronomia,
Coleção Divulgação do Saber, Vol. 1; Ed.
Fulgor Ltda. - 1961.
Astronomia
no Ensino Fundamental do Programa EDUC@R em
Ciências
para os Professores do Ensino Fundamental
ANEXO
Tabela I
Levantamento das resposta fornecidas
pelos alunos de Magistério sobre o mecanismo que explica as
Estações do Ano.
ASSUNTOS |
N. DE RESPOSTAS |
% DE RESPOSTAS |
Não sabem |
57
|
50.44
|
Proximidade da Terra ao Sol |
14
|
12.39
|
Uso de Maquetes - Sem especificar(*) |
6
|
5.31
|
Devido ao eixo da Terra |
6
|
5.31
|
Mudança de Paisagem (*) |
6
|
5.31
|
Mudança de temperatura (*) |
5
|
4.42
|
Posição da Terra com
relação ao Sol |
3
|
2.65
|
Não responderam |
3
|
2.65
|
Parte iluminada verão e parte
não iluminada inverno |
2
|
1.77
|
Mudança da Lua e da Temperatura(*) |
2
|
1.77
|
Teatro com os alunos sem especificar (*) |
2
|
1.77
|
Devido aos raios solares |
2
|
1.77
|
Devido a inclinação do
eixo e ao plano de órbita da Terra (idéia correta) |
2
|
1.77
|
Influência na ecologia
descaracteriza estações (*) |
1
|
0.89
|
Uso do Calendário (*) |
1
|
0.89
|
Explicação Correta |
1
|
0.8
|
OBS.: Os (*) representam aqueles que responderam fora do
enfoque desejado.
Tabela II
Levantamento das resposta fornecidas
pelos alunos de Magistério sobre o mecanismo que explica as
Fases da Lua.
ASSUNTO |
N. DE RESPOSTAS
|
% DE RESPOSTAS
|
Não sabem |
65
|
57.52
|
Movimentos Sol -Terra - Lua, colocado de
diversas maneiras, mas conceitualmente errôneas |
28
|
24.78
|
Confundem com eclipses |
6
|
5.31
|
Apenas citam as fases |
6
|
5.31
|
Não responderam |
4
|
3.54
|
Uso de maquetes (sem especificar) |
2
|
1.77
|
Resposta correta |
1
|
0.89
|
CRÉDITOS
Orientado
André Salvador de Paula
Nasc.: 25/12/1975
3a. série do segundo grau
Escola Técnica Estadual de 2o. Grau "Paulino Botelho"
Orientador
Henrique Jesus Quintino de Oliveira
Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC)
Instituto de Física de São Carlos e Instituto
Química de São Carlos
Universidade de São Paulo
SÃO C A R L O S
MARÇO DE 1993
Revisão
e Adaptação para HTML
Jorge Hönel
Centro de Divulgação da Astronomia
CDA - CDCC
São Carlos - SP
AGOSTO DE 1997
|